quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Cartas na mesa

De uma maneira geral costumo ter fixações rápidas e únicas. Explico: minhas grandes paixões repentinas tem prazo de validade, duram no máximo três meses, são intensas, talvez por isto se esgotem rapidamente, e, quando escolhido o alvo, ele é único, não há espaço para outro corpo, nem mente para dois amores.

A seleção é aleatória. Um sorriso, um olhar, mas na maioria das vezes caio nas garras da inteligência. Não há nada mais charmoso do que conhecimento, ironia e cavalheirismo, atrelados, é claro, a barba mal-feita e estilo.

Alguns não precisam anunciar a presença para serem notados, mas depender da aparência e esnobar a voz é jogo de alto risco. Os menos notáveis costumam ser melhores no quesito “surpreenda-me”, já que não contam com cartas extras.

No entanto, ambos me levam ao tédio rapidamente. Ao tédio ou à loucura, então, como solução para o não-aborrecimento, salto de fixação. Do mesmo modo como um olhar me atrai, o cadarço desamarrado acaba se tornando um defeito essencial para o desenrolar do relacionamento. E, assim, faço da paixão mero passatempo e movimento meu pino para a próxima casa do tabuleiro.

Accidental me

E apesar da total apatia, o sorriso assusta e me pega desprevenida quando te vejo. De repente lá está você, descendo as escadas daquela sua maneira de andar, como se não reparasse sua presença notada. E quando se vai, meus olhos continuam te seguindo, e me fazem levantar a procura de algum outro relance. Te explicaria minhas fraquezas e seguraria sua mão, te chamaria para sentar comigo e tomar o café de amanha. Então você entenderia e ficaria um pouco mais. Talvez meus livros te fizessem olhar, mas a concentração me escapa com você por perto. Eu já estive aqui antes, aqui, ali, nessa posição. Já fui outras vezes, inclusive você. E no seu lugar, não quis conhecê-lo, apesar do livro, dos olhares, do convite.

Talvez seja só um mal-entendido. O lugar e hora errados para pensar em você. E a inexistência de presentes em meu presente te fazem responsável pelo espaço disponível.

inspiração

sabe, eu tenho tanto a te dizer, desse tipo de coisa que a gente deixa lá guardado pra hora apropriada, mas talvez essa hora já tenha passado e eu continuei sem te dizer nada. porque naquele dia eu devia ter dito, seus pé enlaçados aos meus enquanto você dormia eram a prova que eu precisava, pois ao contrário de outros, com você eu me sentia feliz e segura e protegida, mais importante, querendo estar ali. enquanto te esperei abrir os olhos, pensei em todas as frases, ficou tudo perfeito, as palavras, a ordem, todos os meus sentimentos em torno de 1000 caracteres. é, sempre tive essa mania, medir minhas falas, calcular os diálogos, como um jogo besta no qual acumulo pontos resumindo minhas emoções. mas você não acordou, eu adormeci, olhando seus olhos ainda fechados. quando acordei você não estava mais ali, seu bilhete me explicava a partida antecipada, a ligação dela. ela me preocupa, ela coloca em risco minha segurança, minha paz, teu amor. e você foge de mim por ela. tenho medo da importância que perco perto de sua presença, a dela, como a ligação de vocês parece mais estruturada que a nossa, e que, justamente por isso, te prefiro, mas talvez você não pense assim.

deixaria de lado toda essa indignação quanto aos relacionamentos estruturados, jogaria fora minhas convicções sagitarianas. que se foda minha liberdade, pegue-a. porque sei que faria bom uso dela, te pago com doses de espontaneidade, e meu troco seria a segurança de ter só pra mim.

The Collection


E você continua aqui.

Naquele dia não pude me segurar. Tinha tanto a dizer e minha garganta ardia por tentar segurar lágrimas que insistiam em cair. Meus defeitos e vícios cuspidos em minha cara, algo que não pensei que você faria. Por todo esse tempo nunca imaginei que tais pensamentos ocupassem sua cabeça, e, assim de repente, descubro cicatrizes profundas que causei e que, por não conhecer, nunca respeitei. Foi como um tapa na cara saber o quão rápido você pôde listar todos os meus erros. E eu não tinha escolha, além de te ouvir.

Agora ouça, eu posso ser a pessoa mais pessimista, e a mais adorável, ao seu lado. E ainda que você me veja por inteira, cave meus sentimentos e me envergonhe, eu peço, continue aqui. Você viu cada parte, viu minha luz, agora ame minha escuridão. E continue aqui.

Por favor, seja capaz de me tirar dos saltos altos. Seja o idiota que eu sempre suportei, e amei. Você foi meu amigo, meu melhor amigo, sempre teve seus benefícios. E quando te via, te vejo, e sempre, eu perco o fôlego. Sabe, talvez eu não consiga ser boa sem você.

Eu tento argumentar o seu amor na triste convicção de que eu já o experimentei antes. Isso talvez nunca aconteceu (acho incrível a maneira como eu saboto minhas fantasias de reconciliação). Mas, então, porque você continua aqui?

Você me vê, desse modo em que não há amnésia seletiva, e que eu acreditava não existir, antes que você começasse a falar esta noite. Minha memória é simples, eu sempre esqueci o que preferia não lembrar.

Mesmo arrasada e perdida, seu sorriso me dá esperança de que talvez tudo possa ficar bem. É que eu só percebi agora, me desculpe. Se nos apaixonarmos novamente tudo seria resolvido. O amor sempre foi analgésico para a rotina, tome a pílula. E continue aqui.

Não se surpreenda se eu te amo pelo o que você é, sempre foi desse jeito. E ao invés de listar seus erros, preferi sorrir por suas qualidades. Por favor, mantenha meus pés no chão.

E você continua aqui. Posso voltar a sorrir?