terça-feira, 28 de abril de 2009

Pour ne plus rien savoir

Eu não sei o que você quer, eu não entendo o que você espera de mim. Não agüento mais ser vilã dessa história. E a cada discussão me perder e acabar pedindo desculpas por algo que nem sabia estar fazendo errado. Não julgue meus sentimentos. Não encontre indiferença onde há insegurança. Eu não faço monólogos. Só espero respostas e confidências em troca de minhas palavras.

Enquanto as lágrimas escorrem, palavras transbordam e perco o controle da sensatez. Estavam presas a tanto tempo, pobrezinhas, me corroendo por dentro proibidas de se manifestar. O que antes era claro e certo, se tornava digno de piedade. E com os sentimentos abalados, infiltrados pela sujeira das palavras, resolveu-se falar. Simplesmente falar.

era o fim do sentir.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Grey Gardens

Abriu os olhos e lembrou do terrível pesadelo que tivera durante a noite. O corpo doía, os pensamentos a perturbavam e a sensação de desespero já havia a dominado. Nas últimas manhãs, o desespero sempre a tomava, com ou sem pesadelos. Freqüentemente enrolava na cama quando o despertador tocava, esperando a tranqüilidade acordá-la, mas dessa vez pulou ao primeiro toque e, ao pisar no chão frio com os pés descalços, percebeu sua visão fora de foco e a escuridão tomando o lugar da cena.

Piscou, parou.
Tudo voltou ao normal.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

criação é destruição

Ela pensava no sentido da vida, em como todas as emoções e reações eram abstratas, em como o tempo tratava de esclarecer os pensamento e desanuviar a mente. Seguir em linha reta sempre pareceu um erro e sem notar ela trilhava esse rumo. O empurrão a levou ao chão, o passageiro passou sem pedir desculpas e dar explicações e ela precisou procurar algo para se apoiar. Com as mãos no vidro, via a vida fluir pela janela. Às vezes a perspectiva era melancólica, os tons cinzas tomavam as imagens e ela enxergava a tristeza inerente em cada uma das fotos em sua mente, talvez um reflexo dos seus sentimentos. Por outras vezes, as cores invadiam as cenas, cada sorriso a alegrava: alguns ainda persistiam na felicidade.

Preferiu não se sentar, continuou caminhando pelo vão entre os bancos: o vazio entre vidas. Era como se sentia, perdida entre assentos ocupados, espaços estranhos e figuras desconhecidas. Prendia-se à memória, às lembranças de dias partidos e horas perdidas. O presente era nutrido pelo passado, transformado em mera invenção da realidade. O que se foi ontem, será sentido e ressentido de modo diferente hoje. Lembrança nenhuma é exata.

Se tudo no mundo se degenera, serei degenerada.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Filha de peixe

Stella se levantou pela manhã e logo viu os cabelos loiros e o rosto pintado que a encarava do outro lado do quarto. O quadro original de Andy Warhol fora um presente de seu pai e tinha servido de inspiração para sua última coleção, que refletia a seriedade e a melancolia pouco aparente de Marylin Monroe através de tonalidades neutras, o cinza e o preto. Era dia 9 de março, e enquanto Stella via o trem passar pela janela, ensaiou alguns passos do iê-iê-iê e se preparou para uma Hard Day's Night: o lançamento de inverno.

Concurso Cultural Marie Rucki
Miniconto relacionando um estilista, um artista contemporâneo e um filme em até 80 palavras ou 500 caracteres.


Selecionada! Dia 14: O cinema como parte integrante do sistema da moda. ^^