terça-feira, 28 de setembro de 2010

ondine

I'm sitting with you
Sitting in silence
Let's sing into the years, like one...

Como em contos ele apareceu. Encantando, embora os papéis estivessem invertidos. Em sua defesa eu precisei combater demônios. Usei das minhas armas mais letais, aquelas nunca antes reveladas em juízo perfeito. Em minha guerra particular ele era mero coadjuvante e, ao mesmo tempo, razão de tudo. Motivo justo, imparcial e perfeito.

A longa jornada foi cumprida, tão comprida. Por anos prometi o contrário e fiz das minhas verdades nosso ideal. Se tivéssemos cavalos teríamos cavalgados juntos pela praia. Como em uma cena brega ao pôr-do-sol. E disso, nada nos importaria. A não ser o toque suave dos lábios como recompensa para aquele momento.

Minha coroa de flores não vieram de fadas. Mas ele trouxe o buquê que enfeita a mesa da sala. Eu sempre preferi os lírios. Seu perfume. E ao me procurar pelo salão, ele seguia o brilho do arrastar de meu vestido. O toque da seda era tão suave quanto suas mãos acariciando meu rosto.

Como sonho. Tão irreal. Às vezes imaginado. Sempre verdadeiro. A vida seguia.

domingo, 26 de setembro de 2010

salva

A imagem me trouxe a lembrança.

Escolhi o jardim ao acaso, para ouvir músicas e o som da minha risada. Tudo começou com as flores. Brancas, rosas, amarelas. As cores me cercavam e me deixavam em paz. Me certifiquei do dia, ainda era hoje, mesmo sendo tarde. Sentei e cruzei as pernas a espera das sensações.

Em alguns segundos me ouvi sorrindo. Ao meu lado eles sorriam também. Sem motivos aparentes eles me mostravam a felicidade passageira. Instantes de alegria sem sentido. Compartilhei aquele momento. Meus pés sentiam o gramado, me livrei de minhas meias. Era felpudo, como um tapete.

Quis levantar, me mexer, dançar, mergulhar no silêncio. Mas havia música e ela invadia minha cabeça. Continuei sentada e esperei que a paisagem se acalmasse. Esperei o sorriso cessar. Os motivos continuavam não fazendo sentido para mim. Julguei a idéia inicial de estar ali, tudo acabaria logo e seria somente mais um momento.

Quis voltar para o plano inicial. Aproveitar a rotina de sempre, a mesma natureza que me trazia paz. Não tive forças para me sugerir outra idéia e continuei sentada. Em vez de me tranqüilizar, o ar pesava sobre mim e me sufocava a cada respiração. Minha cabeça tombava para os lados e por alguns segundo desacordei.

O pesadelo espreitava na mente para tomar conta de mim. E então aconteceu. O desespero de estar presa em outro lugar. Eu caminhava e me via cercada. Elas riam. As flores. A cerca. A felicidade delas me assustava. Suas cores embaralhavam minha vista e eu continuava perdida. Não consegui abrir os olhos, algo me impedia de ver o resto do caminho. Eu andava em círculos enquanto o mundo pendia e a gravidade me fazia cair. Me agarrei às paredes da sala do sonho enquanto tudo era arrastado. O gosto doce me deu nojo, me ofereciam a bebida delas. Era pólen, era mel.

Dei passos na realidade, que voltava aos poucos a ser um vislumbre. A cada imagem do espaço que eu ocupava minha alma se despedaçava. Tão ruim quanto o pesadelo era a realidade que me aguardava. Tristeza, pavor, insegurança, medo. E eu chorava. Compulsivamente. Sem que nada pudesse me acalmar. Senti toques, palavras. Mas ainda estava longe para voltar.

As lágrimas escorriam e eu estava deitada na cama. Ao abrir os olhos enxerguei a cabeceira e percebi que estava ali. O pesadelo tinha acabado e eu me encontrei despedaçada no fim da viagem. Enquanto meu coração batia, bombeava todo tipo de desgraça para minha mente. As memórias me desnortearam. Segura, perdi o rumo da minha vida. O pesadelo me fez tropeçar.

Tudo continuava ali. Eu estava sentada e as flores me rodeavam. Bastava de natureza. Acendi alguns cigarros enquanto recobrava a consciência. Mas algo estava faltando. Eu me faltava. Aquilo que levei tanto tempo reconstruindo, novamente estava exposto. Agora, sou obrigada a enterrar novamente o velho jardim e replantar as flores novas. Me forço a ver suas cores e planejar seu futuro. Meu futuro.

A viagem me afastou de mim. Volto aos poucos ao ponto inicial. E temo os jardins pelas lágrimas que me cobraram, pelo passado que me exigiram e pelas charadas que temo decifrar um dia.

*Takashi_Murakami_Killer_Pink

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ódio vago, vago ódio

E que se fodam você e suas virtudes. Vá pro inferno com sua falsa segurança e as palavras que ousa dizer a cada vez que os limites são ultrapassados. Minhas barreiras caem e só há lágrimas aqui para se ver, nenhum sentimento a constatar. Como queria eu saber que metade do teu vago discurso serviria para me apunhalar na primeira oportunidade, cuspido na minha cara como quem pediu para que isto acontecesse. Santa ingenuidade, fruto da ignorância de poucos amores, tempo gasto e dedicação. Lixo, jogue tudo fora junto da podridão que carrega em teu coração, só assim me sentirei livre do teu poder sobre mim, das tuas mãos a minha procura e da memória do teu rosto, que por tantas vezes significou algo em que eu acreditava. Dissolva tuas dúvidas, coloque um fim. Antes que seja tarde demais para isso e você vire novamente o cretino que eu relutei em acreditar que você algum dia tenha sido.