segunda-feira, 22 de agosto de 2011

mr gaunt

O vento soprava lá fora. As folhas dançavam antes de se estenderem no chão, como se colocadas, uma a uma, diante daquela pintura. O quadro formado entre as divisórias do vidro. Do outro lado, este, só eu. A te imaginar enquanto chovia aqui dentro. As notas não acompanhavam a dor. A música soava estranha aos meus sentimentos. Brincavam de se camuflar em melancolia. Fantasiava-se de sonho. O despertar não seria sentido. A realidade era aquela.

Tentei. Fracassadamente, tentei. Rasguei páginas, piquei-as ao piano. Mas a música continuava a me perseguir, junto à lembrança de dias sem fim. Despi-me de todo pesar. Ele não me teria. Corpo, mente e notas pertenciam, agora, somente às criações. Dediquei-as todas ao novo. Pela mesma janela de vento e folhas, observei enquanto a canção se perdia junto ao frio. Açoitada pela chuva, logo se postou na terra molhada. Do amor que virou lama me restam as cicatrizes e os ecos do passado.

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