Sonhei que tinha perdido minha mala. Todas minhas coisas
mais preciosas nas mãos de outras pessoas. Procurei, procurei, me prendia ao
desejo de revê-la. Entrei em desespero ao imaginar que pudessem fuçar nas
minhas roupas, perfumes e brincos. Tudo aquilo que representava alguma coisa:
memórias, lembranças, sensações.
Mais tarde, percebi que não adiantava ter minha mala de
volta, ela já havia sido corrompida pelos olhares alheios. Tiraram-me a mala e
levaram metade minha embora. Eles corriam para alcançar o trem enquanto se
livravam do peso morto. Eu também precisaria me libertar. Os sinais diziam que
a leveza seria alcançada através da perda.
Como quem sabe
exatamente as respostas, fiz o que precisava ser feito. Nem sempre as ações me
faziam melhor, mas eram necessárias.
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