quarta-feira, 19 de agosto de 2009

conto de natal

enquanto os flocos de neve caiam, eu sentia o frio tocar minha pele. estava mais gelado que o habitual, como se o ar tivesse parado por alguns segundos se preparando para receber a rajada de vento a seguir. nesse momento você apareceu branca e pálida diante de mim. seus longos cabelos loiros e a boca vermelha estarreciam meus olhos. e então percebi que caminhava na sua direção, sem controle sobre minhas ações, sua proximidade me assustava. mas você fugia, andava na minha frente como se me guiasse por um caminho que eu teria obrigatoriamente de percorrer. naquele momento entendi que você era meu destino.

caminhei sobre seus passos, seguindo sua visão e seu perfume. a neve parou de cair, o frio deixou de me perturbar. mas o branco no chão continuava a me cegar. percebi que o sol aparecia, se refletia, e que as estações mudavam. vi folhas secas no chão que, de repente, se tornou castanho, como seus olhos pareceram ser há alguns anos atrás. tentei correr para te olhar de frente, mas era inútil, o futuro é sempre uma incógnita.

quando enfim as flores apareceram, a tristeza tomou conta de mim, pois a cena que se formava em nosso caminhar representava meu fim. vi o túmulo vazio. as margaridas dos arredores não ousavam chegar até ele. não só eu perecia ali. o sol se apagava aos poucos. seu véu antes branco já estava sujo de terra e grama. quando enfim foi o fim, você me olhou de frente, do lado oposto a minha cova, e sorriu. a trajetória da minha vida me levou até você, eu te aceitei mas não pude retribuir o sorriso. então tudo escureceu. do meu puro inicio só restaram as lembranças, meus passos me corromperam e o tempo foi responsável pela minha decadência.

em minha lápide nada será escrito. escolhi caminhar junto ao destino. os que eu tinha, me deixaram. os que nunca tive, cá estão. morro cercado de estranhos, assim como estive em vida.

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