quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

geek

Fazia sol e ela tinha ido ao parque. A leitura estava quase no fim, e queria terminá-la como a personagem, com a cabeça livre dos problemas já resolvidos. Não seria tão simples, pois seus problemas só a deixavam em paz entre a primeira e a última página. Foi ali sentada que, de repente, despretensiosamente, o conheceu, num tropeço.

- Oi, desculpa, tô com pressa... você sabe onde fica a rua Mário Antônio? Não? Me disseram que era por aqui. Aliás, bela camiseta. O que tá escrito? Sweetzerland? Bacana. A praça Marquesa é por aqui? Me disseram que era perto. Minha vó era polonesa, falava algo de alemão. Não, só sei o básico. É, Scheisse e Huresohn. Palavrões? Sério? Desculpa. Que horas são? Acho que tô perdido. Esqueci de oferecer, coca? Dia bonito. Posso sentar? Era, uma entrevista. Designer. De internet, sim. Que rua é aquela? Mas você não é daqui? Presumi, ninguém vem de muito longe para ler no parque. O que é? Eu gosto de Johannes Vermeer. Um romance, sério? A Holanda deve ser fabulosa. Prefiro lírios ... É, vou tentar me encontrar. Um prazer, tchau.


- Oi. Sim, voltei. Sei lá, eu não queria ir embora. Seu sorriso me faz bem.

Ela ainda não sabia, mas seu livro terminaria com os mesmos problemas. No entanto, um final feliz a aguardava.





happy valentine's day, meus amores.
=*

3 comentários:

Ogami disse...

Muito muito bom!!!
Esse ritmo com o qual você cadenciou o texto foi incrível menina Talita.
Parabéns...
"All you need is love, and you got it, all you need is love.... love is all you need..."
Afinal é Valentine's day, ou melhor foi...
Au revour, see ya....

dicionarista-embaçado disse...

Gosto de novos amores. De namorar idéias, sons e letras novas, com sorrisos que me fazem bem.

Mas o livro, da primeira à última página, sempre fica ressabiado.

junior disse...

Deu até vontade de ler no parque.

Engraçado que sempre ouvimos e relatamos com precisão apenas o que ouvimos. As nossas palavras se perdem nas entrelinhas das nossas páginas.

Monólogo acompanhado. Que paradoxo, que nada!